domingo, 8 de novembro de 2009

Pós-New no Correio Brazilienze


O jornalista Carlos Marcelo nos deixou até sem graça.
Adoramos a matéria. Confira no link abaixo:
Segue também o texto da matéria:



Tempos de som e luz


Dupla de fotógrafos brasilienses planeja livro e exposição com preciosidades da cena artística local dos anos 1980




Carlos Marcelo




Havia um tempo em que se vivia na cidade um sentimento quase infantil: o de descoberta das possibilidades da imagem fotográfica com registros da cena musical e artística de Brasília. Foi nesse tempo, nos cada vez mais longínquos anos 1980, que surgiu a agência Pós-New(1), fundada pelos fotógrafos Nicolau El-Moor e Ricardo “Bolinha” Junqueira. Legião Urbana, Plebe Rude, Cinco Generais, Arte no Escuro, Peter Perfeito… famosas ou não, nove entre 10 bandas brasilienses passaram pelas lentes da dupla. Mais: El-Moor e Junqueira fizeram campanhas publicitárias, transformaram os amigos em modelos, utilizaram as ruas como estúdio. Experimentaram muito e se divertiram na mesma proporção. 



Essa história de som e luz ficou impressa em milhares de negativos, que, após quase 20 anos de gaveta por conta da diversificação das atividades profissionais da dupla, começam a sair do limbo. “Sinceramente, acho que temos um tesouro em nossos arquivos”, acredita Nicolau El-Moor. “Estamos descobrindo um monte de coisas sobre o nosso jeito de fotografar e como foi bom ter vivido esse período”, destaca Junqueira. 



A ideia da dupla é reunir as imagens mais expressivas da época em livro e exposição a tempo de celebrar os 50 anos de Brasília. Com o cuidado de guardar o material 100% inédito, eles criaram um blog (posnewfotografia. blogspot.com) para divulgar o projeto e compartilhar com amigos e anônimos algumas das fotos da época. “Sendo tão nova como cidade, Brasília deve se orgulhar de cada momento que viveu. E poucos momentos da cidade foram tão significativos como esse período. Fizemos nosso registro, um trabalho honesto e despretensioso. A cidade vai ficar orgulhosa de poder rever”, aposta El-Moor. “Estamos vendo que tínhamos um trabalho maior que imaginávamos. Muitas fotos que na época passaram batidas, na verdade são bastante interessantes”, comenta Junqueira. Segundo o fotógrafo, que atualmente mora em Natal, muitas das imagens que padeceram com a passagem do tempo, danificadas por fungos ou pela deterioração química, ficaram ainda mais fortes. 



Quase todas as fotografias são em preto e branco, opção estética e econômica da dupla. Eles mesmos revelavam e ampliavam as cópias, processo artesanal praticamente em extinção após a chegada dos equipamentos digitais. El-Moor destaca a “fome de experimentar” em todas as etapas do processo: para isso, valia utilizar filmes vencidos, luz de poste, de faróis de carro, tudo o que estava à mão. Junqueira e El-Moor ressaltam que o arquivo não contém apenas registros de shows e ensaios com bandas de rock. “Fotografávamos as bandas, as pessoas da própria turma, do teatro, a arquitetura da cidade. Acho que se eu fosse padeiro, fotografaria pães”, brinca Nicolau. “Foi um período muito rico na história de Brasília e do país. Uma fase de transição onde, apesar da ditadura ainda estar presente, parece que a liberdade que tínhamos era maior até que hoje”, compara Junqueira.